A cultura da maçã tem um grande potencial no Brasil, tanto para exportação, especialmente para a Ásia, quanto para o processamento e industrialização no mercado interno. O País está entre os dez maiores produtores do mundo, de acordo com a FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, e concentra mais de 90% do cultivo nos estados do Sul, além de São Paulo e Minas Gerais. É também um cultivo que enfrenta desafios comuns à agricultura, que são as pragas, doenças e mudanças climáticas.
No Rio Grande do Sul, que na temporada 2021/22 plantou 14,5 mil hectares e colheu quase 500 mil toneladas, é fácil entender como o clima quase sempre determina os números da safra, para mais ou para menos. José Sozo, presidente da Associação Gaúcha dos Produtores de Maça (Agapomi), relembra as diferenças de cada ano e como refletiram na produção, mesmo com todas as etapas bem-feitas pelo produtor.
“Em 2021 tudo colaborou, foi fantástico, a produção no Sul atingiu 846 mil toneladas, com 51% da produção em SC, 47% no RS e 2% no PR; já 2022 tivemos geada tardia e várias floradas dispersas, as frutas foram mais miúdas, a exportação caiu muito. Para 2023, como ainda não tivemos inverno rigoroso, pode acontecer geada tardia, de setembro para frente, e isso atrapalha as floradas, mas estamos levantando a produção e o RS deverá ultrapassar SC em 3% da produção brasileira”, completa Sozo.
Já que controlar o clima não é possível, o agricultor, para produzir mais e melhor, precisa estar sempre atento ao manejo que está ao seu alcance, ou seja, prevenir ou contornar outros aspectos dos pomares, como as doenças. Uma das mais antigas do cultivo, o Cancro Europeu das Pomáceas, causada pelo fungo Neonectria ditissima, possui práticas obrigatórias determinadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) desde 2013, para sua prevenção e controle. O fungo está presente praticamente em todos os países que produzem a fruta e, no Brasil, foi detectado em 2002 em um viveiro comercial de mudas de maçã em Vacaria/RS, município com a maior área com o cultivo no Estado, quase sete mil hectares.
A doutora em fitopatologia, Rosa Maria Valdebenito Sanhueza, engenheira agrônoma e responsável pelo Centro de Pesquisa da Proterra, explica que a concentração maior da doença está no Rio Grande do Sul, e com menor incidência em outras regiões produtoras. Além disso, destaca que o agente causal Neonectria ditíssima é um fungo da lista oficial de Patógenos Quarentenários Presentes (PQP), conceito que categoriza a ausência ou presença de determinado fungo ou praga no país. “E infelizmente não existem variedades resistentes ao Cancro Europeu, então práticas de controle cultural e químico nos pomares e viveiros são as principais aliadas para diminuir os danos. Os viveiros são vistoriados para que as mudas não introduzam o fungo nos pomares e são localizados longe das áreas de produção para não haver risco de contaminação”, completa a especialista.
Infecção
Rosa Maria descreve que o N. ditissima inicia sua infecção nos ferimentos causados pela desfolha das macieiras. A partir daí, coloniza os ramos e vai se desenvolvendo lentamente até que na Primavera apresente os sintomas nos ramos novos e nas gemas. “Esses cancros iniciais também podem ocorrer por outro ferimento que não seja na desfolha, como em ramos podados, arqueamento dos ramos e no preparo das mudas”, diz.
Conforme a especialista, outro dano que ocorre no Brasil, associado a essa doença, é a Podridão Calicinar de Maçãs na fase de frutos novos. “No fim da Primavera, pode-se observar pomares com muitas perdas de frutos que se formaram. Algumas podridões de frutos durante outras etapas do ciclo também ocorrem, até no período de armazenagem”, pontua a fitopatologista.
A profissional lembra ainda que as condições climáticas das regiões produtoras de maçã são muito favoráveis ao desenvolvimento da doença e, além disso, os conídios ficam presentes o ano todo, sendo dispersos pela chuva. “Os ramos podados com cancro nunca devem ser deixados no pomar e a dispersão dos conídios se dá a curtas distâncias. Dessa forma, os prejuízos causados pela doença podem inviabilizar econômica e financeiramente a produção”, ressalta.
Manejo
Conforme as práticas obrigatórias definidas pelo Mapa para a redução da infestação na área produtiva, as plantas novas de até três anos com a presença de cancro das maçãs devem ser arrancadas, independentemente do tamanho da perda. Rosa Maria destaca que no momento da poda devem ser eliminados os ramos com a doença até pelo menos 10 cm do sintoma e, à medida que a infecção está muito forte, “as plantas precisam ser podadas severamente, e fica comprometida a produção, pois são eliminados muitos ramos da planta”, reforça.
Como forma de evitar perdas importantes, o produtor de maçã pode contar com ferramentas de controle, como os fungicidas. A especialista considera fundamental arrancar as plantas doentes, podar o ramo com Cancro e junto a essas etapas aplicar fungicidas. “É ideal fazer o tratamento com o produto durante o período de queda de folhas para proteger as feridas causadas nesse processo e reduzir a infecção dos ramos. É nesse momento que o fungicida tem função importante, pois fica na planta e a protege quando há chuvas”, complementa.
Resultados
Através do Centro de Pesquisa da Proterra e dos pesquisadores Dra. Rosa Maria Valdebenito Sanhueza e Dr. Vinícius Bartnicki, o Cuprital 700 foi avaliado em Vacaria/RS nas safras 2020/21 e 2021/22 no controle de Cancro Europeu das Pomáceas. O protocolo de tratamento incluiu doses de 100ml, 85ml e 70ml por 100 litros, pulverizadas nas fases de 10%, 50% e 90% de queda das folhas, com intervalos de aplicação que variaram de uma semana a dez dias.
Rosa Maria explica que os intervalos podem se alterar quando as fases de queda das folhas se distanciam e isso ocorre quando as condições climáticas não estimulam a queda das folhas. “Assim, se os intervalos forem muito longos entre essas porcentagens de desfolha é preciso fazer duas aplicações em cada”, pontua.
O trabalho permitiu demonstrar que as doses de 85ml e 70ml de Cuprital 700 foram eficientes na redução de ramos com Cancro, apresentando diminuição significativa da doença e da presença de conídios de Neonectria ditissima nos cancros presentes. Os tratamentos foram comparados com plantas sem tratamento (testemunha). “Pode-se concluir que o fungicida é uma nova opção para o manejo da cultura”, conclui a pesquisa.
Blindagem das pomáceas
Uma ferramenta recém registrada para o enfrentamento eficiente do fungo e da doença é o Cuprital 700, um fungicida bactericida protetor multissítio com alta concentração de oxicloreto de cobre (Cu+2) na sua forma mais nobre, diferenciando-se de todos os produtos à base de cobre no mercado. Desenvolvido pela Ascenza, o produto faz uma “blindagem” do pomar para que ele possa enfrentar melhor os impactos desse problema durante a safra.
De acordo com Patrícia Cesarino, engenheira agrônoma e Expert em marketing e desenvolvimento da Ascenza, o produto tem três grandes pontos de destaque: formulação líquida com suspensão concentrada, alto índice de cobre metálico (700 g/L) e é classificado toxicologicamente como categoria 5 – Produto Improvável de Causar Dano Agudo. “Também é importante destacar a origem 100% mineral do produto, ou seja, trazido diretamente das minas extratoras e por essa razão é livre de outros metais”, indica.
A formulação é ideal ainda para cultivos orgânicos, certificada pelo IBD. “Uma grande vantagem também para produtores que cultivam orgânicos”, acrescenta Patrícia.