Retardo da semeadura e colheita da soja em várias regiões, e também a diminuição das temperaturas durante a maturação do grão já indicavam descompasso
A produção brasileira de milho segunda safra 2022/23 deve chegar a 102,2 milhões de toneladas, de acordo com o último levantamento da Conab divulgado no início de setembro. O resultado contribui para o patamar de maior safra de grãos já registrada no país. A colheita, conforme o órgão, aproxima-se do final, com 93,1% da área semeada de nove estados (91%) finalizada até 10 de setembro.
A Conab considera que o atraso já era esperado devido ao retardo na semeadura da soja em diversas regiões e, consequentemente, a sua colheita, e também pela diminuição das temperaturas durante a maturação do grão. Além disso, a queda na cotação do cereal registrada a partir de abril no país fez com que muitos produtores optassem pela redução natural de umidade dos grãos, como forma de minimizar os custos de produção.
Mesmo com o plantio realizado tardiamente em muitas áreas, as condições climáticas colaboraram para um adequado suporte hídrico para as lavouras. Na maioria dos estados, as produtividades superaram as alcançadas na safra 2021/22. Em alguns deles foram registrados recordes históricos, com destaque para o Mato Grosso, que superou seu recorde de produtividade, colhendo uma média de 6.886 kg/ha e uma admirável produção de 50.731,2 milhões de toneladas.
Nova safra e estimativa de produção
Simultaneamente, o plantio da primeira safra de milho de 2023/24, o milho verão, atingiu 20,7% da área prevista de 4,085 milhões de hectares até o dia 8 de setembro, superando 1,5% do ano passado. Temperaturas acima do normal e chuvas em algumas áreas beneficiam o plantio no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Estes são os únicos estados com plantadeiras em campo até agora, como é tradicional neste momento, de acordo com dados da AgRural.
Sobre a produção total de milho no país no ciclo que se aproxima, há poucas projeções. No início de agosto, um relatório da StoneX apontou um avanço marginal relativo apenas à primeira safra, de 0,1% no comparativo anual. Isso resultaria em 28,63 milhões de toneladas, mesmo com recuo de 1,8% de área plantada. Segundo a consultoria, isso poderá ser possível com uma certa recuperação de produtividades no Sul.
“Na temporada 2022/23, as lavouras gaúchas foram intensamente afetadas pelo La Niña mas, na próxima safra, é esperado que a ocorrência do El Niño beneficie não só as lavouras do estado, mas da região Sul como um todo”, comentou o analista de inteligência de mercado do grupo, João Pedro Lopes.
Com relação à produção brasileira de milho por completo em 2023/24, apesar de ainda ser cedo, a estimativa da StoneX é de 139,3 milhões de toneladas. Para chegar ao número, o grupo considera o somatório da primeira estimativa para a primeira safra e os mesmos números da segunda e terceira safras atuais.